quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dilma é eleita a primeira mulher presidente do Brasil


Com apoio dos principais setores do movimento social, como a UNE, UBES e ANPG, Dilma Vana Rousseff foi eleita neste domingo (31) presidente da República para o período de 2011 a 2014

Ela é a primeira mulher a chegar ao mais alto cargo do país. Economista, ex-ministra do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, de Minas e Energia e da Casa Civil, Dilma teve a eleição definida quando atingiu 55,43% dos votos válidos no segundo turno das eleições, ante 44,57% do candidato do PSDB, José Serra.

Na campanha, Dilma destacou as conquistas dos dois mandatos do governo do presidente Lula, que a indicou para concorrer à Presidência. O seu mote de campanha foi a necessidade de o Brasil continuar crescendo na economia com inclusão social. A presidente eleita ressaltou que 28 milhões de pessoas deixaram a situação de miséria ao longo desses quase oito anos e prometeu trabalhar para erradicar definitivamente a pobreza no país.

No comando da Casa Civil, a presidente eleita conhecida por seu estilo durona, coordenou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma das principais marcas do governo Lula, com ações em praticamente todas as áreas, desde infraestrutura até segurança pública. Dilma também foi responsável pelo lançamento do programa Minha Casa, Minha Vida, de forte apelo social.

Biografia
Mineira de nascimento, Dilma começou na política no movimento estudantil, em Belo Horizonte. Combateu a ditadura militar (1964-1985), o que a levou à prisão, onde foi torturada. Em liberdade, recomeçou a vida em Porto Alegre, ao lado do ex-deputado Carlos Araújo, com quem era casada à época. Na capital gaúcha, participou da fundação do PDT de Leonel Brizola. Em 2000, deixou a sigla, junto com alguns trabalhistas históricos, como o ex-prefeito de Porto Alegre Sereno Chaise, e se filiou ao PT.

Dilma nasceu em 14 de dezembro de 1947, em Belo Horizonte, em uma família de classe média alta. Filha da professora Dilma Jane Rousseff e do advogado Pedro Rousseff, um búlgaro naturalizado brasileiro com quem adquiriu o gosto pela leitura. De acordo com pessoas próximas, Dilma era uma devoradora de livros, tendo construído uma sólida formação intelectual. Até os 15 anos, estudou no tradicional Colégio Sion, atual Colégio Santa Doroteia, escola onde eram educadas as filhas da elite da capital mineira. Ao ingressar no ensino médio, passou para o Colégio Estadual, escola pública mista, mais liberal, onde surgiram muitos dos líderes da resistência à ditadura em Minas.

Continuidade
Segundo o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, Dilma vai cumprir a meta de erradicação da miséria e manter a integração entre crescimento econômico e inclusão social. “O governo Dilma vai ser um outro governo. Ela vai dar seu tom e estilo, e aprofundar o que governo Lula começou. O Brasil pode e tem que erradicar a miséria. E a integração entre crescimento e divisão da riqueza vai ser a marca do governo da presidenta Dilma Rousseff”, acrescentou Temporão.

Na mesma linha, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, não prevê um governo idêntico ao de Lula, mas aposta que Dilma Rousseff vai continuar com a política de valorização do salário mínimo, por exemplo. “A Dilma vai manter a nossa política de valorização todos os anos do salário mínimo com aumentos acima da inflação. E, de certa forma, isso já está contemplado no Orçamento”, explicou.

Para o ministro, com Dilma na presidência da República, o Brasil vai continuar crescendo, com inflação sob controle, geração de emprego e investimentos em infraestrutura. “A continuidade significa manter os programas, a linha, mas vai sair um presidente e vai entrar outra. Com a caneta cheia para nomear quem quiser”, brincou Paulo Bernardo.

Na avaliação do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, o país está pronto para seguir mudando. “Vamos deixar uma herança do bem. Um país ajustado, pronto para continuar crescendo e reduzindo a pobreza.”

Primeiro Discurso
Após o anúncio da vitória, Dilma encontrou aliados e fez um emocionado discurso de agradecimento ao povo brasileiro.  A presidenta Dilma Rousseff, eleita com mais de 55,7 milhões de votos, afirmou após sua vitória que fará um governo com foco na erradicação da pobreza, no fortalecimento da economia nacional e fará esforços por uma reforma política que eleve os valores republicanos. A primeira mulher a assumir o comando do Brasil abriu seu discurso assumindo o compromisso de “honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural”, disse.

Emocionada, Dilma falou sobre sua relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e contou o que aprendeu com o maior líder que o país já teve.

“Ter a honra de seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda. Conviver durante todos estes anos com ele me deu a exata dimensão do governante justo e do líder apaixonado por seu pais e por sua gente. A alegria que sinto pela minha vitória se mistura com a emoção da sua despedida. Sei que um líder como Lula nunca estará longe de seu povo e de cada um de nós. Baterei muito a sua porta e, tenho certeza, que a encontrarei sempre aberta”, concluiu.

Entrevista para EstudanteNet
Ainda no primeiro turno, o EstudanteNet, prezando pela diversidade do debate de idéias, optou por entrevistar os quatro mais bem colocados nas pesquisas para a disputa que elegeria o 40º presidente da República. O que pensavam Dilma, Plínio e Marina a respeito da educação, juventude, movimento social e desenvolvimento nacional? Enviamos as mesmas perguntas para todos os presidenciáveis. Assim, pudemos analisar os projetos de Dilma (PT), Plínio (PSOL) e Marina (PV) para o Brasil. O candidato José Serra foi procurado cinco vezes pela redação. A sua Assessoria de Imprensa alegou impossibilidade de tempo para responder as perguntas. Lembrando que também republicamos uma matéria do jornal Brasil de Fato com os candidatos Rui Costa Pimenta (PCO), Ivan Pinheiro (PCB) e Zé Maria (PSTU). Abaixo, leia a íntegra das resposta de Dilma:

Quais as principais propostas da sua campanha para a área da educação e como pretende executá-las caso eleita?
DILMA ROUSSEFF: O governo do presidente Lula reconstruiu a gestão da educação brasileira, corrigiu a política da indiferença e estabeleceu novas prioridades: uma política integrada de ensino, da creche à universidade; universalização da educação básica de qualidade; democratização do acesso ao ensino; garantia de permanência dos alunos na escola; superação da exclusão por classe social, etnia ou gênero; fortalecimento da relação do ensino com o trabalho; e, por último, mas o mais importante, valorização dos profissionais da educação. Agora é o momento de dar sequência à transformação educacional que está em curso no Brasil – da creche à pós-graduação. Vamos continuar no caminho da melhoria e expansão do ensino superior público, gratuito e de qualidade, com o foco sempre na interiorização. Criamos 14 novas universidades federais e 118 novos campi estão em funcionamento. O número de matrículas em graduação na rede federal passou de 583,6 mil em 2003, para 698,3 mil em 2008. Fizemos o Prouni (Programa Universidade para Todos), que já tem 704.637 estudantes beneficiados. O Reuni (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), outra ação importante, prevê o aumento de vagas, ampliação ou abertura de cursos noturnos, aumento do número de alunos por professor, redução do custo por aluno, flexibilização de currículos e combate à evasão. E, por fim, a Universidade Aberta do Brasil, a UAB, que já está em mais de 550 municípios, com mais de 127 mil matrículas. São conquistas que, sem dúvida, vieram para ficar e às quais darei prosseguimento, se eleita for. E podem ter certeza: não faltarão recursos para a educação, que será prioridade absoluta. Acredito que o país não será uma nação desenvolvida sem educação de qualidade. Neste sentido será todo o esforço de meu governo.

Como a sua campanha enxerga a atuação de movimentos sociais como o MST, a CUT, a UNE, a UBES e tantos outros setores organizados dentro da nossa sociedade?
DILMA: Lutei minha vida toda pela democracia por acreditar que por meio dela construiríamos um país melhor. Minha principal experiência política foi, sem dúvida, a participação no governo do Presidente Lula, onde acumulei uma grande experiência e muito aprendizado no diálogo com os movimentos sociais. Vocês podem ter certeza, esse também é um compromisso que caracteriza o projeto que eu represento, manterei o diálogo com todos os movimentos sociais, característica do governo do presidente Lula.

A sua campanha possui uma plataforma específica para a juventude? Quais as principais propostas para este segmento e como pretende executá-las caso eleita?
DILMA: Entendo que um país deve ser avaliado pelo cuidado que tem com as crianças e os jovens, e o governo do presidente Lula mostrou que a juventude é a solução para o Brasil. O ProUni, por exemplo, é uma prova de que se você der oportunidade para os jovens das famílias pobres desse país, eles valorizam muito. Apostar nas crianças e nos jovens é, de fato, estruturar a própria nacionalidade do país. Foi essa a escolha do Presidente Lula desde o primeiro dia do seu primeiro governo, quando criou uma rede de apoio a crianças e adolescentes em todos os ministérios, cada um desenvolvendo ações específicas da pasta com um único propósito: elevar essa população à condição de cidadania efetiva. O Estado vem cumprindo o seu papel em ações de prevenção e proteção, previstas no ECA e em programas específicos, coordenados pela Secretaria de Direitos Humanos. Criamos o Conselho Nacional de Juventude e realizamos a I Conferência Nacional da Juventude, chamando os jovens para pensar os rumos das políticas de juventude. Reforçamos as políticas específicas, criando a Secretaria Nacional de Juventude e o programa Projovem, que tem o objetivo de incentivar e garantir as condições para que aqueles das classes mais pobres consigam terminar os estudos e se profissionalizar. Além disso, os programas universais, como a geração de empregos, a distribuição de renda, o acesso à cultura, a melhoria da educação, as políticas de segurança pública como o Pronasci, todos eles, são ações que beneficiam especialmente os jovens. Meu governo, se eleita, vai seguir essa linha, pois compreendemos o papel estratégico do jovem para o crescimento do país. Na educação, continuaremos e reforçaremos a expansão do ensino técnico, criando institutos federais em cidades com mais de 50 mil habitantes ou que são pólos regionais. Vamos triplicar o acesso à banda larga, tornando mais rápida e mais barata essa forma de acesso à informação e ao conhecimento. Na segurança, levaremos para todo o Brasil a experiência bem sucedida das UPPs do Rio de Janeiro e daremos atenção especial ao crack. Tudo isso para criar as oportunidades que o jovem precisa para se desenvolver plenamente.

De que forma a sua campanha pretende acelerar e dar corpo ao desenvolvimento nacional? Quais são as principais ações da sua campanha nesse sentido?
DILMA: Os avanços econômicos e sociais do governo do presidente Lula não são poucos, mas tenho apontado o principal desafio que se coloca para o nosso país na próxima década, que é o de levar o Brasil a se inserir entre as principais e mais dinâmicas economias de todo o mundo, no patamar de nação desenvolvida. A mais importante meta para garantir esta posição ao país é, sem dúvida, a erradicação da miséria. Para além do ganho ético, humano e social, a ampliação que tal movimento dará ao mercado interno é estratégica para atingirmos o grau de economia desenvolvida. Nosso governo demonstrou,  de forma prática, que distribuir renda no processo de crescimento não limita, ao contrário, potencializa o próprio crescimento. Costumo dizer que, sob a liderança do presidente Lula, o Brasil ocupou um novo lugar no mundo, e os brasileiros e brasileiras encontraram um novo lugar no seu próprio país. 

Da redação, com Agência Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário